A Súplica: Instruções sobre “Chamando o Lama de longe” de Jamgon Kongtrul Lodro Thaye, o Grande – parte 3

Continuação do Ensinamento dado pelo III Jamgon Kongtrul Rinpoche,
Karma Lodro Chokyi Senge
Sua Eminência, o III Jamgon Kongtrul Rinpoche – Karma Lodro Chokyi Senge

Sua Eminência, o III Jamgon Kongtrul Rinpoche – Karma Lodro Chokyi Senge

Obstáculos para a Prática

1) Orgulho

“Escondemos dentro de nós uma montanha de erros;

Mas condenamos e proclamamos os erros dos outros, mesmo quando tais erros são tão pequenos quanto uma semente de gergelim.                        

Embora não tenhamos uma boa qualidade sequer, estufamos o peito para espalhar aos quatro ventos as nossas virtudes.

Ganhamos o título de praticantes do Dharma, mas praticamos apenas o não-Dharma.

Lama, pense em nós, olhe por nós com compaixão imediatamente.

Abençoe-nos para que percamos nosso orgulho e egocentrismo. ”

A razão para sermos egoístas e acreditarmos que somos superiores aos outros ou que temos qualidades excepcionais é o apego que temos a nós mesmos. Uma pessoa pensa que o outro é inferior apenas para confirmar seu senso de auto importância. Uma pessoa pode não ter qualquer autocrítica e, ainda assim, achar que é melhor do que todas as outras. Todos carregam nas costas uma coleção de defeitos tão grande quanto uma montanha, mas estamos atentos ao menor defeito do outro e prontos para criticá-lo por isso. Na verdade, todos temos lados bons e lados ruins, mas é mais fácil enxergar os erros dos outros – o que é só uma desculpa para não enxergamos os nossos próprios erros. Se alguém aponta um erro nosso, ficamos furiosos, pois isso ameaça o nosso senso de auto importância. O outro pode ter muitas qualidades, mas não as reconhecemos por um só motivo – o orgulho. Temos medo de parecermos inferiores na comparação – inferiores aos nossos olhos, inferiores em nosso egocentrismo. Procurar e enxergar falhas nos outros é uma maneira dissimulada de tentar aumentar o nosso valor. Reconhecer as próprias falhas é a marca de um genuíno praticante do Dharma.

Iniciantes correm o risco de ficarem orgulhosos por terem embarcado em uma jornada em direção ao refinamento mental; de assumirem, erroneamente, que já atingiram seu objetivo; e, então, de acreditarem que já adquiriram qualidades de valor para ajudar os outros. No entanto, a ajuda genuína depende das qualidades adquiridas com a realização, que, por sua vez, jamais nasce a partir do orgulho e da desonestidade. Orgulho e arrogância são enganosas e levam uma pessoa a acreditar que é uma boa praticante, quando, na realidade, ela está apenas se vangloriando. Enquanto alguém não for honesto consigo mesmo e ignorar suas próprias falhas, não será um verdadeiro seguidor do Budadharma.  Uma pessoa pode permanecer presa ao hábito de julgar os outros – hábito que nada tem a ver com os ensinamentos do Senhor Buda; hábito mundano que revela somente uma falta de compaixão. Uma pessoa equivocada como essa está sendo somente arrogante e orgulhosa, atitudes que servem de obstáculos e que propiciam o surgimento de uma longa cadeia de emoções perturbadoras como a ignorância, o desejo, a raiva, a avareza, o ciúme e assim por diante. Se nossa prática permanecer ligada aos valores mundanos, será impossível que ela se transforme em uma ajuda verdadeira para nós mesmos e para os outros. Se abrirmos mão de nossa arrogância e orgulho, então, as qualidades genuínas se manifestarão de dentro para fora – e essa é a única forma de eliminar a obsessão enganosa da atitude de se auto vangloriar. Se falharmos em eliminar a atitude de auto apreciação, o orgulho crescerá ainda mais. E é por essa razão que oramos ao nosso Lama para que ele pacifique nosso infinito egoísmo.

2) Fixação no ego

 “Escondemos dentro de nós o demônio da fixação no ego que sempre nos leva à ruina.

Todos os nossos pensamentos fazem os kleshas aumentarem.

Todas as nossas atitudes têm resultados não-virtuosos.

Nós nem ainda chegamos perto do caminho da liberação.

Lama, pense em nós, olhe por nós com compaixão imediatamente.

Abençoe-nos para que desenraizemos a nossa fixação no ego. ”

Quando acreditamos no ego e estamos fixados nele, falsamente concluímos que viveremos para sempre. Nessas condições, nossos pensamentos e intenções só servem para alimentar outros kleshas e emoções perturbadoras e o resultado é que nossas atividades permanecerão insalubres. A fixação no ego impede que sequer nos aproximemos do caminho da liberação. Dessa forma, oramos ao nosso Lama para que ele rapidamente olhe por nós e nos conceda suas bênçãos para que possamos cortar e erradicar nossa equivocada crença em um ego.

Durante todas as nossas vidas anteriores, estivemos iludidos e confusos; consequentemente, não somos capazes de perceber que o ego, na verdade, não existe. Intensificamos nossa noção de ego vendo-o como uma entidade de existência permanente e isso nos convence de que somos muito importantes. Acreditamos saber o que é bom para nós, mas nossa mente está apenas distraída. Todos os nossos pensamentos derivam das nossas emoções negativas e, desse modo, a única coisa que podemos causar é mais sofrimento – para nós mesmos e para os outros. Embora as nossas intenções sejam boas, nossas atividades são nocivas. Devido à força do carma, causamos apenas mais dor.  A fixação no ego não atrapalha somente, mas impede as pessoas até de pensar sobre seu desejo de encontrar um caminho confiável para a libertação do sofrimento. Uma vez que a fixação no ego é tão prejudicial, pedimos aos nosso Lama que nos conceda suas bênçãos compassivas para que nos livremos completamente e perfeitamente da fixação no ego.

 3) Impaciência

“Um pequeno elogio nos deixa felizes; uma pequena crítica nos deixa tristes.

Umas poucas palavras duras nos fazem perder a armadura da nossa paciência.

Mesmo quando enxergamos aqueles que são destituídos, nossa compaixão não se manifesta.

Quando há uma oportunidade para sermos generosos, ficamos atados pelos nós da ganância.

Lama, pense em nós, olhe por nós com compaixão imediatamente.

Abençoe-nos para que nossas mentes se unam ao Dharma. ”

Se uma pessoa não conseguir integrar o Budadharma em sua mente, não conseguirá levar uma vida significativa. As pessoas ficam muito contentes quando elogiadas e tornam-se deprimidas e frustradas quando criticadas. Isso porque, diante de uma palavra mais áspera, as pessoas se dão conta de que os outros não as veem como elas gostariam que fossem vistas. O tema da paciência é discutido repetidamente nos ensinamentos e, muitas vezes, alguns discípulos pensam que já aprimoraram essa virtude; entretanto, diante do menor sinal de crítica, reagem com raiva.  O bem e o mal não dependem da opinião dos outros, mas da capacidade de cada um de estabelecer valores durante a vida. Enquanto formos egocêntricos, não poderemos realmente fazer o bem. Qualquer coisa feita com egocentrismo destrói qualquer bom valor que já tenhamos conseguido desenvolver. Desse modo, precisamos desenvolver qualidades genuínas e não depender das opiniões que os outros possam ter.

Esse trecho da prece lembra-nos de que não há qualidade tão benéfica e importante quanto a paciência e de que não há defeito mais pernicioso do que a raiva. Se não conseguirmos desenvolver a paciência verdadeira, situações desagradáveis podem fazer com que percamos toda a paciência que vínhamos tentando acumular com tanta energia e esforço.

O Budismo também enfatiza a importância de gerar e desenvolver a compaixão. Se permanecemos indiferentes ao sofrimento que está na frente dos nossos próprios olhos, isso é um sinal de que não estamos realmente praticando o Dharma. É necessário desenvolver a pura motivação e realmente ter vontade de conduzir os outros à iluminação. Mas essa vontade tem de ser posta em prática e de forma tal que, naturalmente e automaticamente, tenhamos empatia pelos outros, em todas as situações e em todos os momentos, sem hesitações.

O que foi dito acima também vale para a generosidade – razão pela qual esse tópico é enfatizado continuamente nos ensinamentos e precisa ser entendido e cultivado. Se não ajudamos os necessitados, isso significa que falhamos em realmente integrar o Dharma em nossas vidas. As virtudes da paciência, compaixão e generosidade são apontadas como muito importantes durante os ensinamentos. Contudo, tais virtudes permanecerão apenas como belas palavras enquanto não as integrarmos em nossas vidas e ignorarmos as oportunidades que aparecem para as colocarmos em prática no nosso dia a dia. Um comportamento como esse não presta benefício a ninguém. Palavras não são o suficiente e é por isso que pedimos ao nosso Lama que nos abençoe para que a nossa mente e o Dharma estejam em perfeita comunhão, em todos os caminhos de nossas vidas.

4) Apego

“Achamos que o samsara vale a pena, mas ele não vale.

Abrimos mão de uma visão mais profunda por comida e roupas.

Apesar de termos tudo que é necessário, queremos sempre mais.

Nossas mentes são enganadas pelo irreal, pelos fenômenos ilusórios.

Lama, pense em nós, olhe por nós com compaixão imediatamente.

Abençoe-nos para que abandonemos o apego a essa vida. ”

Nesses versos, Jamgon Kongtrul Lodro Thaye mostra que o samsara não tem qualquer valor ou significado. Eu já expliquei esse tópico e quero que todos saibam que acreditar que o samsara tem significado é algo que meramente pensamos ou assumimos. E que, ao assumir isso como uma verdade, gastamos uma grande quantidade de energia comprando novas roupas e adquirindo coisas melhores; consequentemente, permanecemos ignorantes sobre a existência de metas maiores e mais abrangentes. Uma pessoa pode ter tudo que precisa para desfrutar de um nível de vida bastante razoável, mas, mesmo assim, continuar procurando por mais e mais coisas. Essa pessoa fica transtornada dessa maneira porque acredita que o samsara é real e que pode lhe trazer satisfação. Mas o samsara não passa de uma ilusão.

Ouvimos dizer que a existência condicionada inevitavelmente leva ao sofrimento e que não apresenta qualquer valor significativo. Também ficamos sabendo que precisamos desenvolver a genuína renúncia. Mas queremos mais. Se temos cem, queremos mil; se temos mil, lutamos para atingir um milhão. Nossos desejos se multiplicam conforme passamos pela vida e, nessa tentativa fútil de satisfazermos metas sem valor, experimentamos uma tristeza incessante. Em nossa busca por mais fortuna e mais fama, ignoramos a meta mais significativa de todas: o Budadharma – um estado livre do sofrimento. Precisamos voltar nossa mente para uma meta significativa, que é o Budadharma. A prática gradualmente nos capacita a experimentar a perfeita e duradoura felicidade. Pedimos ao nosso Lama que nos abençoe para que não permaneçamos tomados pelo desejo de ter mais e mais coisas.

5) Ações não-virtuosas

 “Incapazes de tolerar a mais leve dor física ou mental,

Com coragem cega, não hesitamos em cair nos reinos inferiores.

Embora vejamos claramente a infalível lei de causa e efeito,

Não agimos virtuosamente e aumentamos ainda mais nossas atividades não-virtuosas.

Lama, pense em nós, olhe por nós com compaixão imediatamente.

Abençoe-nos para que possamos confiar completamente nas leis do carma. ”

Quando sofremos e experimentamos uma leve dor de cabeça, reclamamos. Entretanto, se fôssemos mais honestos, perceberíamos que a nossa dor é muito pequena perto da dor que os seres sencientes que vivem nos reinos inferiores têm que sofrer até que seus carmas sejam esgotados. Cada indivíduo acumula causas e condições através de suas atividades de corpo, fala e mente que, por sua vez, levam-nos a nascer em um ou outro reino ou ambiente. A verdade da lei do carma não é muito estável na mente. Às vezes, o indivíduo lembra-se da infalível lei de causa e efeito e passa a engajar-se em atividades virtuosas. Mas, na maioria das vezes, os indivíduos ignoram, esquecem essa lei e nem sequer se preocupam com as suas próprias ações. Se o indivíduo verdadeiramente se der conta de que as atividades não-virtuosas levam ao sofrimento e que as ações virtuosas definitivamente levam à felicidade, ele viverá de acordo com a lei do carma.

Basta contemplarmos nossa situação atual para ganharmos confiança no ativo processo do carma. Existem tantos seres vivos! Cada indivíduo experimenta vários tipos de agonias e dores físicas e mentais. Algumas pessoas parecem encontrar problemas durante toda a vida, enquanto outras nunca sofrem acidentes, raramente adoecem e assim por diante. Cada ser vivo tem um carma pessoal e, consequentemente, experimenta os efeitos das causas que ele mesmo criou. Todos os seres vivos são iguais, entretanto, no sentido de que desejam experimentar a felicidade e não a dor. Alguns são bem-sucedidos nessa busca pela felicidade, outros não – e isso tem a ver somente com os mecanismos do carma. Se o indivíduo não compreende a infalível lei de causa e efeito, passará sua vida em constante confusão e perplexidade. Se, por outro lado, o indivíduo reconhece a lei do carma, abandonará as atividades não-virtuosas e só fará o bem. É a certeza sobre o carma que faz com a que a mente de alguém fique afastada das atividades não-virtuosas. Então, nós oramos ao nosso Lama e pedimos-lhe que nos abençoe para que a convicção no carma se manifeste em nós.

6) Preguiça

 “Odiamos nossos inimigos e nos apegamos aos nossos amigos.

Perdidos na escuridão da ignorância, não sabemos o que aceitar ou o que rejeitar.

Quando praticamos o Dharma, caímos no tédio, torpor e sonolência.

Quando não praticamos o Dharma, ficamos atentos e com os sentidos em alerta.

Lama, pense em nós, olhe por nós com compaixão imediatamente.

Abençoe-nos para que derrotemos os nossos inimigos, os kleshas. ”

 Nossa mente fica em total tumulto enquanto tentamos distinguir nossos amigos de nossos inimigos. Esse tumulto nasce dos sentimentos de apego e de aversão, as principais aflições. Somos ignorantes sobre o que é bom ou mau; certo ou errado; o que precisa ser feito e o que precisa ser deixado para trás. Mesmo quando fazemos o bem, somos tragados pelo poder dos hábitos negativos e ficamos desanimados, cansados e sonolentos (e isso fica muito evidente durante as práticas intensivas do Dharma, tais como as práticas realizadas em um retiro). É imprescindível saber o que realmente precisamos adotar e o que precisamos abandonar para podermos superar todos os obstáculos que as emoções perturbadoras nos trazem. É por causa de nossas próprias ilusões que os obstáculos aparecem durante a prática. Oramos ao nosso Lama e pedimos-lhe que nos abençoe para que nossas ações não entrem em contradição com o Dharma.

 7) Raiva

 “Vistos de fora, parecemos genuínos praticantes do Dharma;

Por dentro, nossas mentes não estão integradas com o Dharma.

Como cobras venenosas, escondemos nossos kleshas dentro de nós.

Contudo, quando aparecem as situações difíceis, as faltas de um praticante sem convicção vêm à luz.

Lama, pense em nós, olhe por nós com compaixão imediatamente.

Abençoe-nos para que consigamos domar nossas mentes. ”

Algumas pessoas parecem estar realmente envolvidas com o Budadharma, já que se comportam de maneira adequada; mas, caso tenham falhado em domar suas mentes, seus pensamentos contradizem suas ações. Nesses casos, tais pessoas não têm sido capazes praticar o Dharma com a intenção pura de treinar suas próprias mentes – que é o único propósito dos ensinamentos. Suas mentes são dominadas por emoções perturbadoras; essas pessoas só pensam em si mesmas e permanecem indiferentes aos outros. Jamgon Kongtrul Lodro Thaye compara esse tipo de obstáculo com uma cobra. Sempre que vemos uma cobra, sentimos medo e fugimos correndo – razão pela qual a cobra é metaforicamente associada ao medo e ao ódio. Como as cobras que tememos, escondemos nossas emoções e ficamos, portanto, em contradição com o Dharma; e, como consequência, não obtemos da prática qualquer resultado benéfico. Certas pessoas são até capazes de reconhecer um ou outro erro que cometem, mas o mais comum é ver pessoas que pouco se importam ou se preocupam com os outros.

Noto que vários iniciantes têm muita fé no Dharma. Eles praticam com entusiasmo, mas suas aflições aumentam depois de alguns anos porque eles não estão verdadeiramente integrando os ensinamentos em suas vidas – ensinamentos estes que são apresentados com um único propósito: o de domar e transformar a própria mente. Mesmo os praticantes de longa data e os que já terminaram um retiro ainda se apegam a um senso de auto importância. É preciso domar e treinar a própria mente. Se um praticante foi bem-sucedido em domar a sua própria mente, podemos dizer que ele alcançou a meta dos ensinamentos que o Senhor Buda nos apresentou.

Os sinais mais positivos de uma prática bem-sucedida são diligência, calma mental e uma disposição tranquila. Fomos ensinados que as qualidades adquiridas a partir da escuta e contemplação dos ensinamentos são estabilidade mental e atenção plena em todas as situações; e que a qualidade adquirida a partir da meditação sobre os ensinamentos é a liberdade das emoções perturbadoras. Se um praticante não alcança a calma e a paz, isso indica que o conhecimento que ele tem sobre o Dharma é superficial.  Dessa maneira, oramos fervorosamente ao nosso Lama que nos abençoe para que sejamos capazes de domar nossas mentes.

8) Instabilidade

“Sem reconhecer nossas faltas,

Tomamos a aparência de um praticante do Dharma enquanto nos envolvemos em atividades que são contrárias ao Dharma.

Estamos habituados aos kleshas e às atividades não-virtuosas.

Por várias vezes as intenções virtuosas surgem; e por várias vezes as deixamos de lado.

Lama, pense em nós, olhe por nós com compaixão imediatamente.

Abençoe-nos para que vejamos nossas próprias faltas. ”

Por vezes, chegamos a pensar que somos praticantes do Vajrayana, mas falhamos em reconhecer e examinar nossas próprias faltas e continuamos a nos comportar indevidamente por causa das nossas emoções perturbadoras. Sabemos da importância das atividades virtuosas, mas esquecemos de nos engajar nelas. Esses versos complementam os versos anteriores e, mais uma vez, essa prece nos mostra como é fácil continuar atento às falhas dos outros e como é difícil enxergar a própria mente. Algumas pessoas parecem ser praticantes, mas suas mentes estão transtornadas e controladas por hábitos negativos – e isso as impede de fazer o bem. Suas mentes não estão estáveis. Às vezes, a Bodhicitta se manifesta em suas mentes – evidência de que tais estados de tumulto podem ser somente uma fase e que é possível superá-la, reconhecer as próprias falhas e fazer o bem. Engajar-se em ações virtuosas do corpo e da fala sem ter desenvolvido uma mente benevolente não é suficiente. Atividades verbais e físicas benéficas dependem de uma motivação pura.

Muitas pessoas passam horas recitando mantras e textos litúrgicos, mas suas intenções não são genuínas e puras – a prática, nesse caso, é em vão. Mas não devemos cair no outro extremo e pensar que recitar mantras e fazer retiros são inúteis enquanto não tivermos domado nossa mente completamente. Se fizermos isso, estaremos ignorando o benefício que a prática e a recitação litúrgica trazem. Precisamos dos dois: da prática externa formal e da introspecção. O Dharma é o caminho pelo qual cultivamos nossas mentes; a prática de fato transforma a mente. Os meios hábeis que o Senhor Buda nos ofereceu precisam ser integrados através da recitação e das práticas de meditação que estão à disposição de todos nós. Desse modo, sentimo-nos alegres em ver que tantos seres vivos são capazes de se engajar em treinamentos externos e internos, no lugar de somente semearem confusão.

O tema desse trecho da prece está ligado aos oito obstáculos mundanos. O trecho em questão termina com um pedido sincero ao nosso Lama no sentido de que ele nos abençoe e inspire a cultivarmos a pura motivação da bondade amorosa compassiva. Quando estudamos os ensinamentos, precisamos desenvolver a pura motivação da Bodhicitta – que é a chave para uma apreciação viva do Budadharma.

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Nota da tradução para o inglês: A tradução do Texto Raiz foi realizada por Dzogchen Ponlop Rinpoche e Michele Martin e baseou-se em uma versão realizada pelo Comitê de Tradução Nalanda, em “Journey without Goal”, de Chogyam Trungpa (Shambhala, 1985); publicada no “His Eminence Jamgon Kongtrul Rinpoche. In Memory”, Jamgon Kongtrul Labrang, Rumtek, Sikkim, 1992, páginas 42-73. As instruções apresentadas por Jamgon Rinpoche na França, em 1990, foram transcritas para os arquivos do Monastério Pullahari, no Nepal, e organizadas por Gaby Hollmann, responsável por quaisquer erros.  

Todos os conteúdos © Thar Lam

Original em inglês: ‘The Supplication: Instructions on Calling the Lama from Afar by Jamgon Kongtrul Lodro Thaye the Great’. Thar Lam, The Path of Liberation, The International Journal of Palpung. Dezembro, 2007. p. 15 – p.37

Traduzido para o português por KTC – Cláudia Marcanth.

Revisado e editado por Cláudia Carréra.
KTC, maio de 2015