Ensinamento apresentado por Sua Eminência Khentin Tai Situ Rinpoche no Monastério de Samye Ling, Escócia, em 1988
Existem diferentes tipos de Lamas-Raiz que um praticante de budismo tibetano pode ter, porém discutirei aqui somente os dois mais importantes. Eles são o rTsa-ba’i-bla-ma e o bLa-ma’i-brgyud-pa, traduzidos como “Lama-Raiz” e “Mestre da Sucessão”, respectivamente. Guru é o termo honorífico em sânscrito para “mestre”, e, portanto, é frequentemente usado quando alguém se refere ao seu Lama-Raiz.
O dirigente de uma escola específica do Budismo Tibetano é o bLa-ma’i-brgyud-pa, cujas origens vêm se conservando há muitos séculos, através de uma sucessão contínua de transmissões. Brgyud significa “transmitir, conduzir, fluir, continuar e prosseguir”. Também significa “conectado” e “linhagem”. O dirigente da linhagem Karma Kagyu do Budismo é Sua Santidade o Décimo Sétimo Gywalwa Karmapa, Orgyen Trinle Dorje. Pode-se dizer que os quatros Lamas-Raiz das quatro principais escolas do Budismo Tibetano detêm posições comparáveis àquelas dos dirigentes de ordens Cristãs, como os Beneditinos e os Franciscanos.
O segundo tipo de Lama-Raiz que um discípulo do Vajrayana pode possuir é o rTsa-ba’i-bla-ma, onde rtsa-ba significa “raiz”. O Lama-Raiz de uma pessoa pode, mas não necessariamente, possuir o título Rinpoche, que é alguém que foi identificado, atualmente, como o nascimento de um importante praticante do Dharma no passado. Rinpoche significa “Aquele que é Precioso”. O Lama-Raiz de alguém é verdadeiramente precioso, mesmo que ele (ou ela) não tenha sido reconhecido como o renascimento de um mestre anterior, já que possui pura conduta, é versado nas escrituras, obteve discernimento por meio da reflexão acerca dos ensinamentos e possui as qualidades e sinais de experiência e realização advindos da meditação. Essas distinções definem o título de “Lama”. Um discípulo sente que pode aprender e se desenvolver melhor sob a orientação de um determinado Lama, respeitando e confiando nele sem hesitações ou dúvidas – isto é, as palavras do Lama-Raiz penetram pelos seus ossos. Ele (ou ela) é aquele que é precioso por ser a sua conexão mais forte com o Dharma. Esse Lama auxilia você ao máximo para alcançar a realização da verdadeira natureza da mente, que é a bondade inata – esse, é, portanto, o seu Lama-Raiz. Por possuir enorme compaixão, seu Lama-Raiz jamais deixa de cuidar dos discípulos e nunca reluta em ensiná-los e guiá-los.
Na verdade, uma pessoa deveria ser capaz de aprender com qualquer Lama – aliás, com qualquer pessoa e com todas as situações que experimenta durante a vida. Contudo, uma pessoa aprende mais com o seu próprio Lama-Raiz do que com qualquer outra pessoa, porque a conexão é profunda e permanece por toda uma vida. Ela já vem se mantendo por muitas vidas e provavelmente se manterá por muitas outras.
rTsa-ba’i-bla-ma é frequentemente traduzido como “amigo espiritual” ou “guia espiritual” porque ele (ou ela) é o seu guia no caminho do Dharma. Ele não é necessariamente o seu Lama de Refúgio – aquele que abriu a porta do Dharma para você. Só o tempo dirá se um Lama de Refúgio se tornará um Lama-Raiz. Uma pessoa pode encontrar seu Lama-Raiz seguindo as orientações do seu Lama de Refúgio, assistindo aos seus ensinamentos e praticando diligentemente. Entretanto, pode haver confusão se alguém busca Lamas de várias tradições e linhagens diferentes, o que transforma a mente do aspirante em algo parecido com uma caixa de aquarelas – a cor vermelha é linda, duas tonalidades de verde são brilhantes e claras, amarelo e lilás são cores festivas. Se você misturar tudo, você obterá um marrom lamacento. É melhor não misturar as linhagens para que sua mente não se torne um marrom lamacento, tendo em vista que cada tradição e linhagem budista enfatiza instruções e práticas específicas do vasto corpo de ensinamentos apresentado pelo Senhor Buda.
Em tibetano, o Lama-Raiz de uma pessoa é rTsa-ba’i-pha-ma, o Lama que é mais cuidadoso do que o mais cuidadoso dos pais (pha-ma) — ele transmite um legado duradouro e inestimável. Ele certamente não tem a intenção de fazer uma lavagem cerebral em você e não espera que você seja o que não é. Além disso, um estudante precisa se lembrar de que a ligação com um Lama é voluntária. Pode ocorrer que um Lama deixe de ser apropriado. Isso acontece, de fato, e, quando acontece, é porque ele não era, desde o início, o rTsa-ba’i-bla-ma. Se o Lama que uma pessoa considera como o seu Lama-Raiz quebrar seus votos, o “contrato” com o aluno também estará automaticamente rompido. Se os estudantes não forem capazes de receber orientação quando tal conexão for rompida, eles deverão buscar orientação em sua própria natureza búdica.
Todos os conteúdos © Tai Situ Rinpoche
Original em inglês: The Root Lama. Thar Lam, The Path of Liberation, The International Journal of Palpung. Dezembro, 2007. p. 2 – p. 3
Também disponível em: http://www.greatliberation.org/library/tai-situpa-library/The_Spiritual_Teacher/The%20Root%20Lama%20-%20TL%20December%202007.pdf
Traduzido para o português por KTC – Cláudia Carréra e Roosevelt Dias
Revisado e editado por Cláudia Marcanth
KTC, agosto de 2013
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