Em uma PUJA (ou um RITUAL DE PRÁTICA DE SADHANA), invocamos e dirigimo-nos ao Guru, ao Yidam e às Três Raízes, ou, neste caso, ao protetor, Mahakala, que também pode ser entendido como a personificação das Três Raízes. Nosso foco principal em uma puja é a atividade iluminada que permeia o tempo e o espaço. Levando-se em conta que os Yidams (deidades budistas iluminadas) estão mais especificamente relacionados com o aspecto ativo do Dharma, é através de seus nomes que suas atividades se tornam óbvias. Quando o ritual de Mahakala está sendo realizado, o protetor aparece na forma de uma divindade irada. Isso não quer dizer que Mahakala seja feroz ou agressivo. Mahakala não é nada mais do que a inseparabilidade entre a compaixão e a generosidade amorosa. Do ponto de vista da sabedoria mais elevada, não há separação entre Mahakala e a Mente Desperta de Buda. Mahakala é a manifestação da mente desperta.
Apresentando-se de forma muito majestosa e esplêndida – apesar de assustadora – Mahakala está cercado por uma montanha de chamas para simbolizar que nenhum inimigo será capaz de enfrentar a sua aparência. A faca curva e afiada que o protetor mantém erguida em uma das mãos simboliza a eliminação dos padrões negativos, tais como agressão, ódio, ignorância – qualquer um dos cinco venenos. Nenhuma neurose ou negatividade conseguirá tolerar essa forma tão majestosa. A forma assustadora simboliza Mahakala como totalmente desprovido de medo ou hesitação em seu espontâneo – mas consistente – trabalho para beneficiar e liberar todos os seres.
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Mahakala é representado de pé, em cima dos cadáveres de dois corpos humanos, simbolizando, dessa maneira, a morte das negatividades e o completo desenraizamento dos padrões negativos – a tal ponto que, como um corpo morto, eles jamais voltem a viver. É muito importante conhecermos esses símbolos relacionados ao Mahakala porque muitas vezes temos a equivocada impressão de que ele pode ser um espírito obsessor ou perigoso, um ser maligno, talvez até o próprio Senhor da Morte pronto para atacar e devorar. Poderíamos encontrar grandes dificuldades em lidar com esses diversos símbolos caso não entendêssemos que nossa compaixão despertada é a qualidade essencial da figura de Mahakala. Nunca se ouviu falar que Mahakala tenha ferido alguém, mesmo que de forma muito branda, pois ele está o tempo todo beneficiando os seres através da constante atividade de sua mente iluminada.
Uma atitude apropriada e uma sincera motivação são necessárias quando participamos de rituais. Devemos suplicar para que, através de tal participação, nossas negatividades sejam completamente removidas e que a proteção e a orientação dos seres iluminados permaneçam inseparáveis de nós mesmos até que tenhamos atingido um perfeito despertar. Pedimos para que nossa presença durante o ritual e nossa invocação possam contribuir para uma contínua paz mundial, para a harmonia, a amizade, felicidade, compreensão, boa vontade e também para que todos os seres fiquem livres dos padrões negativos que causam o caos. Pedimos para que as bênçãos e a presença das deidades iluminadas e despertas se espalhem em todas as direções. Com essa atitude, nossa participação nas pujas será a mais produtiva e benéfica possível.
Extraído de um ensinamento ministrado pelo Venerável Khenpo Karthar Rinpoche, no dia 2 de fevereiro de 1981, no Karma Triyana Dharmachackra. Traduzido para o inglês por Ngodrup Burkar e editado por Agnes M. Ruch. Original disponível em: https://kagyu.org/resources-mahakala-practice/
Tradução para o português KTC – Cláudia Marcanth.
KTC, agosto de 2013