S.S. Karmapa: Ensinamento sobre a Compaixão

Monastério de Gyuto, Dharamsala – 30 de junho de 2013.

Monastério de Gyuto, Dharamsala – 30 de junho de 2013.

Poucos dias depois de seu aniversário de 28 anos, Gyalwang Karmapa deixou os estudantes e devotos locais encantados ao conceder um ensinamento de improviso, atendendo aos pedidos dos estudantes do Monastério de Gyuto, sua residência temporária.

Embora o ensinamento não tenha sido planejado, a notícia se espalhou rápido pelas imediações e logo uma pequena multidão lotou o gompa, ansiosa para ouvir as palavras de sabedoria de Gyalwang Karmapa.

Ele começou agradecendo aqueles que ali estavam reunidos pelo interesse demonstrado pelo seu aniversário e por todas as celebrações pessoais e preces de aspiração. “Com a exceção dos indivíduos sublimes e espiritualmente avançados, todos nós, pessoas ordinárias, estamos sujeitos aos sofrimentos do nascimento, envelhecimento, doença e morte”, disse ele. “Pessoalmente, não vejo necessidade de celebrar o meu aniversário, já que o nascimento, de um modo geral, não é nada mais do que sofrimento. Mas, ainda assim, sinto que preciso expressar o meu agradecimento pessoal a cada um de vocês e a todas as pessoas a todas as pessoas que veem o meu aniversário como uma ocasião para realizar preces virtuosas e dedicações.”

Seguindo sua conduta habitual, no começo do ensinamento Gyalwang Karmapa ofereceu a todos ali reunidos a transmissão oral da prática do Chenrezig de Quatros Braços. Descrevendo essa prática específica como sendo a própria prática da compaixão, ele então prosseguiu com um ensinamento extensivo sobre a compaixão.

“O que chamamos de compaixão é a vontade ou o desejo de ser capaz de proteger os seres sencientes do sofrimento”, começou ele. “Nós poderíamos chamar isso de um senso de determinação, um senso de coragem ou de decisão. Isso é compaixão. Não é apenas algo intelectual, que pertence ao cérebro ou a essa esfera de nossas experiências. Pelo contrário: a compaixão é uma qualidade ou sentimento poderoso que nasce do fundo de nossos corações e que é necessariamente sincero. É assim que eu enxergo a compaixão.”

Criando um vínculo entre a necessidade de compaixão e a realidade da interdependência no nosso mundo contemporâneo, Gyalwang Karmapa enfatizou as ligações entre o bem-estar coletivo e o individual.

“No século XXI, nós nos encontramos no que podemos chamar de era da informação”, explicou ele. “Dentro da era da informação, eu diria que, mais do que nunca, o sofrimento dos outros seres passou realmente a fazer parte da nossa experiência individual. Isso não é meramente uma ideia; isso descreve a verdadeira realidade do mundo em que vivemos agora. Conforme continuamos nessa era da informação, podemos ver que nosso mundo está ficando cada vez menor e que todos nós estamos ficando cada vez mais perto uns dos outros. Dessa forma, ficará, também, cada vez mais evidente que as experiências dos outros seres sencientes são, de fato, parte da nossa própria experiência individual.”

“Isso não é meramente uma noção ou um conceito, mas um fato da nossa realidade como a experimentamos atualmente”, continuou ele. “O sofrimento dos outros seres é parte da nossa experiência individual. E isso é verdade devido ao fato de sermos mutuamente dependentes. Por sermos mutuamente conectados ou inter-relacionados, qualquer que seja o impacto sofrido por um indivíduo, tal impacto, na verdade, afetará todos nós. Então, eu penso que, nesses termos, a compaixão é uma maneira especialmente realista de lidar com a situação em que vivemos nos dias atuais.”

Gyalwang Karmapa, então, explicou que a compaixão tem que começar com a compaixão por nós mesmos. Além disso, a compaixão não deveria permitir o nascimento de qualquer sensação de separação entre nós mesmos e aqueles por quem sentimos compaixão; mas, sim, permitir que nos identifiquemos mais proximamente com os outros.

“Para desenvolvermos nossa habilidade de sentir compaixão pelos outros, nós precisamos começar por nós mesmos”, disse ele. “Precisamos considerar, de um ponto de vista individual, o quanto estamos oprimidos pelo sofrimento. O nosso nível individual de sofrimento, então, passará a ser o modelo que usaremos como base para expandirmos o nosso entendimento sobre a qualidade das experiências dos outros, sejam elas boas ou más.”

“Ao olhar para esse relacionamento, estamos tentando desenvolver compaixão por alguém como objeto da compaixão”, continuou ele. “De nossa parte, somos aqueles que sentem ou cultivam esse senso de entendimento. Mas, se tivermos a concepção de que nós estamos em uma boa situação e que estamos olhando para alguém que está em uma situação desfavorável, então, haverá uma sensação de separação. Não devemos permitir que tal sensação se coloque entre nós e aqueles por quem sentimos compaixão. O que devemos fazer é empenhar-nos para sentirmos que somos parte da pessoa que está sofrendo, que estamos participando de seu sofrimento. Dessa forma, basearemos nossa compaixão em um forte senso de identificação com um outro indivíduo.”

Original disponível em: http://kagyuoffice.org/gyalwang-karmapa-teaches-on-compassion-2/

Agradecemos a Cláudia Marcanth pela tradução para o português.